quinta-feira, 4 de julho de 2013

Wanderlino Nogueira Neto, o meu amigo da ONU




Por: Heráclito Barbosa*


Existem pessoas que passam por nossas vidas e, de alguma forma, contribuem para ampliar o nosso desenvolvimento espiritual e político-social. Wanderlino Nogueira Neto é uma delas.

No ano passado fui eleito para cada uma das vagas, nas etapas municipal, territorial, estadual e nacional, de delegado nas Conferências dos Direitos da Criança e do Adolescente. Na última, entre 12 a 14 de agosto de 2012, em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, conheci pessoas que são, hoje, muito significantes em minha vida e dentre elas um senhor baixinho, de cor brasileira, com olhos de eterna criança, repleto de esperança, de uma inteligência inexplicável e que chamou atenção de todos os presentes na etapa final da 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Seu nome: Wanderlino Nogueira Neto, o meu amigo da ONU.

Nas religiões brasileiras, de matriz africana, todos os indivíduos são respeitados, não importando que seja uma criança ou um idoso. Todos merecem e devem ser respeitados. Nogueira é um idoso com espírito de criança, que cuida de outras crianças e, assim, como na liturgia do respeito da cosmovisão afro-religiosa, ele está muito bem adequado. Por isso ele é uma pessoa muito respeitada no Brasil, amado pelas crianças, adultos e idosos.

Dentre os poucos que tiveram a honra de ter um contato direto com este convidado especial da 9ª Conferência, eu fui um deles. Durante os três dias do evento fiquei vestido com os meus trajes que costumo usar no terreiro, em grandes festividades. No dia que o conheci estava usando várias contas: uma de cor azul forte, do orixá Ogum, ancestral do ferro, que abre caminhos para que eu possa passar em paz, uma do ancestral Katendê, responsável pelo encantamento das folhas usadas em banhos de força (maionga) e, outra, do meu pai Oxalá, com confirmações mescladas de verde e branco. Todos olhavam meus "colares", contas sagradas, e ficavam deslumbrados com tamanha beleza. Usava também um gorro com detalhes da cultura africana, de cor amarela, com pinturas nas cores verde e marrom que ganhei do Táta kinsaba (responsável pelo plantio e colheita de folhas no candomblé) Gilberto Almeida de Magalhães, que é autor da monografia intitulada “Terreiro Caxuté, Um Caminho na Minha Vida”, apresentada para obtenção do diploma de pedagogo, pela UNEB Campus XV. Este filho do Orixá Obaluayê.

Para completar fazia uso de um broche com o símbolo de Brasília. Ele era usado por todos os delegados para terem acesso garantido ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães, broche esse que Wanderlino também estava usando.

Devo aqui agradecer pelo amor e carinho que a presidenta do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Miriam Maria José dos Santos, e a conselheira Maristela Serafin Cizeski, representante da Pastoral da Criança, que mora em Gaspar, cidade brasileira do Estado de Santa Catarina na Região Sul do Brasil, tiveram comigo durante todo o evento, dando-me ainda acesso ao palco principal, no qual subiu a presidenta Dilma Rousseff, a cantora Ivete Sangalo, o ator Marcos Frota, dentre outras autoridades e artistas nacionais e internacionais. E foi neste palco que conheci o baluarte Wanderlino e pude conversar bastante com ele a respeito das Políticas Públicas para as Crianças e os Adolescentes. E até tiramos fotos juntos. Foi muito humilde e grandiosa a nossa conversa.

Foi lá que ele me saudou com a expressão "Axé abá". Sabia o que era "axé", mas desconhecia aquela outra palavra usada, "abá". Não tive vergonha e logo perguntei o seu significado. Com sua voz solene e graciosa respondeu-me que era "amor". Saudava-me com uma expressão, no idioma Yorubà que pouco conheço, desejando-me "muita força e amor".



Perguntou-me depois quais eram os meus Orixás, e respondi na época : “sou filho de Xangô, Oxum, Ossain e Oxalá, destacando minha yá (mãe) Oxum, minha mãe criadora”, e é essa Orixá, que é a dona do orí (cabeça) da minha amada avó, Alzira Félix dos Santos, já iniciada no aè (12/01/2013), juntamente comigo pela Sacerdotisa Afro Elvira da Silva Sena, do Ilê Axé Junsun Adê. A qual jogou os búzios juntamente com  minha mãe biológica, Mãe Bárbara do Terreiro Caxuté, Coordenadora Territorial da Federação do Culto Afro Brasileiro no Baixo Sul da Bahia, as quais consultaram Ifá, o senhor dos búzios, para os meus orixás. Sou filho de todos, pois cada um tem lugar reservado no meu coração, no candomblé não existe a separação.

Logo ele me disse ser filho do “Velho das Palhas”, cuja saudação quando ele chega em solo, seus filhos o saúdam e reverenciam-no dizendo : “Atotô babà!”. Esse “Velho das Palhas” é chamado de Omolu no Candomblé da Bahia.

Quando Wanderlino referiu-se ao Orixá Omolu como “Velho das Palhas” é que, segundo contam, em um mito afro-religioso transmitido pela oralidade e que está recontado no livro Mitologia dos Orixás, do antropólogo da USP, o professor Reginaldo Prandi, é que no Orum, mundo invisível dos orixás, estava havendo uma festa (xirê) para todos os orixás, e quase todos compareceram, mas Obaluayê não, este ainda não tinha chegado ao local, estava do lado de fora coberto de palhas para velar suas chagas. Ogum preocupado com seu amigo Obaluayê o chamou para entrar. Ao chegar ao Abassá (casa ritualística e litúrgica do povo banto), a yabá Yansã em forma de ventania saudou o senhor que estava coberto de palhas, nesse momento todos pararam para ver a ventania que levantava as palhas e viram as chagas de Obaluayê estourarem, transformadas em flores de pipoca, no ar. Todos naquele momento ficaram surpresos e vislumbrados com a beleza que estava debaixo das palhas. A partir desse momento ele foi reverenciado por todos como Omolu, o mais belo príncipe que já tinham visto no universo.

No candomblé, Omolu é coberto de palhas, ele é o responsável pelas doenças, ele pode dar e retirar enfermidades conforme o merecimento dos seus filhos. Ao chegar à terra todos o saúdam dizendo: Atotô ajuberô! Atotô Omolu, Atotô Obaluayê!  E nesse momento, todos em preces e cantigas, jogam pipocas de milho (flores) para cima, pedindo proteção, muita saúde, pedindo ao senhor das palhas e das flores que não deixe nenhuma enfermidade nos tocar.  Pois é... O meu amigo Wanderlino é como um filho obediente, que procura sempre se livrar das doenças do mundo, combatendo as mais graves enfermidades: a prostituição de menores, a intolerância religiosa, envolvimento de crianças em conflitos armados, venda de crianças, a pornografia infantil, os preconceitos, a má educação, o tráfico de menores, a exploração do trabalho infantil, a lesbofobia, a homofobia, a humanofobia, a intolerância religiosa e muitas outras doenças perigosas que estão sendo reproduzidas em quase todas as sociedades. Wanderlino é uma criança que adora cuidar dos seus irmãos e isso é o papel do bom cidadão, do bom filho, papel da pessoa humana.

Ao saber que recentemente o nosso Brasil, na pessoa do amigo Wanderlino, hoje Defensor de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU), foi o mais votado para ocupar uma das 18 cadeiras do Comitê de Direitos da Criança e que foi o mais votado de todos com 161 votos dentre os 189 países votantes, fiquei muito contente e alegre, pois a presidenta Dilma Rousseff e a sociedade civil os indicaram a eleição sabendo dos esforços e compromissos que ele já tinha e que agora eleito terá ainda mais com nossa nação e demais países. Acredito num país melhor, acredito na erradicação da violência sexual contra crianças e adolescentes. Acredito plenamente que o meu amigo, Wanderlino Nogueira Neto, foi o mais indicado do Brasil para o Comitê dos Direitos da Criança da ONU e que o Brasil e o mundo não irão se arrepender. Atotô babà!!!




*Heráclito Barbosa, ex-vereador jovem de Valença; Poeta afro brasileiro; Administra o blog SERAFRO, e é membro do Terreiro Caxuté.

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